quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

AINDA A CRISE


Podemos afirmar, numa análise comparativa, recorrendo a um histórico da economia portuguesa e internacional, que as crises são cíclicas, e as bancarrotas também. Portugal já caiu, oficialmente, 8 vezes em bancarrota, a Espanha, não obstante a sua dimensão e o poder da sua economia, 12 vezes atingiu esta situação, em ambos os casos ainda, a maior parte das vezes em séculos anteriores, no caso português nos tempos da monarquia. (cf. Com investigação realizada por equipa do Jornal Expresso, notícia publicada a 31 Ago 2011).
O FMI, entretanto, e na fase mais recente da nossa história foi chamado a intervir, precisamente, para evitar nova situação de bancarrota, em 1978, 1983 e agora 2011.
O fantasma da bancarrota, apesar dos sacrifícios impostos aos portugueses ainda paira, ainda não está afastado.
Porquê?
Porque tivemos um estado superdespesista. Irresponsabilidade? Má governação? Sim, tudo isso. Como foi possível não “ouvir” os indicadores, os dados, a informação estatística, os quadros do défice e da dívida pública, ignorar os marcadores de tendência, os desvios às médias, as comparações destes indicadores de evolução e tendência com as consequências e efeitos daí resultantes?
É uma série de dúvidas, que no fundo espelham o país e a sociedade que temos. Acredito que se fosse descoberto uma jazida de petróleo significativa em Portugal, não iria beneficiar os portugueses, mas os mesmos de sempre. E tudo continuaria igual, na mesma como sempre foi.
Portugal, voltando a recorrer à história e às estatísticas foi senhor de um império riquíssimo em termos de recursos naturais, de riquezas… a população, comparativamente, com muitos países e com os recursos de que dispunha, nunca conseguiu criar condições de distribuição de riqueza para ser um país equilibrado. Veja-se o exemplo a seguir de aproveitamento de recursos, de distribuição de riqueza e de bem estar da população: a Noruega. Diferença: boas opções na hora de decidir. Comparações: analisem as opções de obras públicas, construção de estradas, … recordando, que é um dos poucos países europeus produtores de petróleo.
Centrando-nos novamente em Portugal.
Que opções? Portugal perde o seu império, orgulhosamente sós não sobrevivemos mais, então pedimos adesão à então CEE, que nos dá a mão, e os nossos governantes encontram um novo filão, qual mina de ouro, fundos perdidos, a EU dá 75% nós só temos que encontrar os outros 25 % para financiar “todo” o tipo de projetos. Ora toca a pedir um empréstimo para mim, ora um empréstimo para ti, ora outro para ali, … cada empréstimo era no mínimo de milhões de euros. Construir estradas, tgv, aeroporto, … tentou-se fazer tudo. E nunca ninguém (os nossos governantes) deu conta que não produzimos riqueza suficiente para pagar todas essas dívidas. Loucura, os mercados são nossos amigos, são um saco sem fundo, emprestam sempre.
Mas a realidade é outra, as crises é verdade que são cíclicas, mas os erros de gestão (governo) e as más opções pagam-se caro… quer dizer, o povo é que paga.
Agora é preciso refundar o estado. É, lamentavelmente é. É preciso fazer o estado dar lucro. É preciso que o estado dê lucro para não haver défice (ie, o estado tem que ter recursos – dinheiro, para honrar os seus compromissos, diários, mensais, … - salários, fornecedores de serviços, … e pagar a dívida). A balança de pagamentos terá que ser positiva num longo período (não pode haver deficit, tem que haver lucro, superavit, porque além das despesas que seriam normais o estado ter, tem que pagar a dívida, loucas dívidas).
Para isso, terá que se cortar em serviços públicos essenciais (saúde, educação, justiça, segurança, apoios sociais, …). O estado terá que ser emagrecido até dar o lucro necessário para não haver défice das contas públicas e para haver ainda recursos para pagar a dívida.
E só depois de recuperar esse controlo da economia, o estado poderá novamente investir nesses serviços públicos essenciais e reparar o mal que vai ter que fazer à saúde, à educação, …
Mas a realidade que vemos é que o estado, mesmo com a austeridade severa com que nos castiga, nem o défice consegue controlar (ou seja, o estado continua a dar prejuízo). Como vai então arranjar recursos para pagar tudo… as despesas correntes que tem e a dívida? Essa é a boa questão… a troika vai embora em Setembro, será a ida aos mercados suficiente para o estado se financiar e controlar o deficit e a dívida?
De permeio ainda tem de financiar a banca. Parece perverso. Financiar, há quem assegure, um dos culpados da situação? Dizem os que nos governam, que neste ponto estão de mãos atadas. É necessário… porque deixar ir um banco à falência (ainda recentemente se financiou o Banif, antes já se tinha feito o mesmo aos outros bancos, com um valor superior aquilo que vale) equivaleria a que todos os portugueses que têm poupanças as perdessem… a falência de um banco significaria o pânico generalizado, a corrida generalizada, que não pouparia nenhum banco a levantar todas as poupanças, descapitalizaria os bancos até à queda de todo o sistema bancário, com consequências inimagináveis para o financiamento da país e da economia.
Questionava atrás, será a ida aos mercados será suficiente?
A resposta é a esta altura difícil. Mas novas avaliações da troika se avizinham.
Caso este plano falhe, o que acontece a seguir?
Os portugueses cumprem com rigor um plano negro de austeridade, pagam a fatura de más opções, de má gestão e depois. O governo é considerado um bom aluno, porque fez o que a troika decidiu (aliás mais do que a troika decidiu) e…
A troika voltará, com o perdão da dívida (como fez com a Grécia), porque esse é efetivamente o nosso grande problema. Atuará depois em 2 campos, revitalizar a economia, num plano controlado, poderá aliviar um pouco a pressão sobre a população, para dinamizar o consumo, mas sempre numa lógica de aperto, austeridade e controlo, com um estado super reduzido, porque durante bastantes anos vai ser preciso um estado muito reduzido (os nossos planos de divida pública até 2021 são de valores astronómicos – muito superiores aos valores de riqueza que conseguimos produzir).
Navegar em águas tranquilas e atingir um bom porto é o objetivo, a esta data, ainda distante… por enquanto prevalecem medos, receios e fantasmas.