Podemos
afirmar, numa análise comparativa, recorrendo a um histórico da economia
portuguesa e internacional, que as crises são cíclicas, e as bancarrotas
também. Portugal já caiu, oficialmente, 8 vezes em bancarrota, a Espanha, não obstante
a sua dimensão e o poder da sua economia, 12 vezes atingiu esta situação, em
ambos os casos ainda, a maior parte das vezes em séculos anteriores, no caso
português nos tempos da monarquia. (cf. Com investigação realizada por equipa
do Jornal Expresso, notícia publicada a 31 Ago 2011).
O
FMI, entretanto, e na fase mais recente da nossa história foi chamado a
intervir, precisamente, para evitar nova situação de bancarrota, em 1978, 1983
e agora 2011.
O
fantasma da bancarrota, apesar dos sacrifícios impostos aos portugueses ainda paira,
ainda não está afastado.
Porquê?
Porque
tivemos um estado superdespesista. Irresponsabilidade? Má governação? Sim, tudo
isso. Como foi possível não “ouvir” os indicadores, os dados, a informação
estatística, os quadros do défice e da dívida pública, ignorar os marcadores de
tendência, os desvios às médias, as comparações destes indicadores de evolução
e tendência com as consequências e efeitos daí resultantes?
É
uma série de dúvidas, que no fundo espelham o país e a sociedade que temos.
Acredito que se fosse descoberto uma jazida de petróleo significativa em
Portugal, não iria beneficiar os portugueses, mas os mesmos de sempre. E tudo
continuaria igual, na mesma como sempre foi.
Portugal,
voltando a recorrer à história e às estatísticas foi senhor de um império riquíssimo
em termos de recursos naturais, de riquezas… a população, comparativamente, com
muitos países e com os recursos de que dispunha, nunca conseguiu criar
condições de distribuição de riqueza para ser um país equilibrado. Veja-se o
exemplo a seguir de aproveitamento de recursos, de distribuição de riqueza e de
bem estar da população: a Noruega. Diferença: boas opções na hora de decidir.
Comparações: analisem as opções de obras públicas, construção de estradas, …
recordando, que é um dos poucos países europeus produtores de petróleo.
Centrando-nos
novamente em Portugal.
Que
opções? Portugal perde o seu império, orgulhosamente sós não sobrevivemos mais,
então pedimos adesão à então CEE, que nos dá a mão, e os nossos governantes
encontram um novo filão, qual mina de ouro, fundos perdidos, a EU dá 75% nós só
temos que encontrar os outros 25 % para financiar “todo” o tipo de projetos. Ora
toca a pedir um empréstimo para mim, ora um empréstimo para ti, ora outro para
ali, … cada empréstimo era no mínimo de milhões de euros. Construir estradas, tgv,
aeroporto, … tentou-se fazer tudo. E nunca ninguém (os nossos governantes) deu
conta que não produzimos riqueza suficiente para pagar todas essas dívidas.
Loucura, os mercados são nossos amigos, são um saco sem fundo, emprestam
sempre.
Mas
a realidade é outra, as crises é verdade que são cíclicas, mas os erros de
gestão (governo) e as más opções pagam-se caro… quer dizer, o povo é que paga.
Agora
é preciso refundar o estado. É, lamentavelmente é. É preciso fazer o estado dar
lucro. É preciso que o estado dê lucro para não haver défice (ie, o estado tem
que ter recursos – dinheiro, para honrar os seus compromissos, diários,
mensais, … - salários, fornecedores de serviços, … e pagar a dívida). A balança
de pagamentos terá que ser positiva num longo período (não pode haver deficit,
tem que haver lucro, superavit, porque além das despesas que seriam normais o
estado ter, tem que pagar a dívida, loucas dívidas).
Para
isso, terá que se cortar em serviços públicos essenciais (saúde, educação,
justiça, segurança, apoios sociais, …). O estado terá que ser emagrecido até
dar o lucro necessário para não haver défice das contas públicas e para haver
ainda recursos para pagar a dívida.
E
só depois de recuperar esse controlo da economia, o estado poderá novamente
investir nesses serviços públicos essenciais e reparar o mal que vai ter que
fazer à saúde, à educação, …
Mas
a realidade que vemos é que o estado, mesmo com a austeridade severa com que
nos castiga, nem o défice consegue controlar (ou seja, o estado continua a dar prejuízo).
Como vai então arranjar recursos para pagar tudo… as despesas correntes que tem
e a dívida? Essa é a boa questão… a troika vai embora em Setembro, será a ida
aos mercados suficiente para o estado se financiar e controlar o deficit e a
dívida?
De
permeio ainda tem de financiar a banca. Parece perverso. Financiar, há quem
assegure, um dos culpados da situação? Dizem os que nos governam, que neste
ponto estão de mãos atadas. É necessário… porque deixar ir um banco à falência
(ainda recentemente se financiou o Banif, antes já se tinha feito o mesmo aos
outros bancos, com um valor superior aquilo que vale) equivaleria a que todos
os portugueses que têm poupanças as perdessem… a falência de um banco significaria
o pânico generalizado, a corrida generalizada, que não pouparia nenhum banco a
levantar todas as poupanças, descapitalizaria os bancos até à queda de todo o
sistema bancário, com consequências inimagináveis para o financiamento da país
e da economia.
Questionava
atrás, será a ida aos mercados será suficiente?
A
resposta é a esta altura difícil. Mas novas avaliações da troika se avizinham.
Caso
este plano falhe, o que acontece a seguir?
Os
portugueses cumprem com rigor um plano negro de austeridade, pagam a fatura de
más opções, de má gestão e depois. O governo é considerado um bom aluno, porque
fez o que a troika decidiu (aliás mais do que a troika decidiu) e…
A
troika voltará, com o perdão da dívida (como fez com a Grécia), porque esse é
efetivamente o nosso grande problema. Atuará depois em 2 campos, revitalizar a
economia, num plano controlado, poderá aliviar um pouco a pressão sobre a
população, para dinamizar o consumo, mas sempre numa lógica de aperto,
austeridade e controlo, com um estado super reduzido, porque durante bastantes
anos vai ser preciso um estado muito reduzido (os nossos planos de divida pública
até 2021 são de valores astronómicos – muito superiores aos valores de riqueza
que conseguimos produzir).
Navegar
em águas tranquilas e atingir um bom porto é o objetivo, a esta data, ainda
distante… por enquanto prevalecem medos, receios e fantasmas.