terça-feira, 19 de outubro de 2010

Custos da Interioridade

O país anda aos «tombos», ninguém se entende. Correcção, entender até que se entendem, sobrecarregar os mais pobres, aumentar impostos, cortar salários, subsídios, direitos… Se isto por si já é grave e manifesta muita descoordenação e falta de visão, porque compromete seriamente o futuro das pessoas, em última instância, do próprio país, há regiões muito mais prejudicadas.
As regiões do interior são gravemente lesadas com as políticas e opções dos sucessivos governos.
O encerramento de escolas, postos da GNR / Judiciária, tribunais, serviços de finanças, notariado, urgências e valências hospitalares, o pagamento de auto –estradas que deveriam ser sem custos para o utilizador.
A lógica mudou nitidamente. Ainda há pouco tempo o modelo certo passava pela descentralização, pois considerava-se que aproximar a administração da população, criar relações de proximidade, estar presente onde a população precisa era… o politicamente correcto. Era, mas já não é!! Agora… centralizar, centralizar, que se faz tarde. Centralizar tudo se possível. Diminuir as acessibilidades a tudo, ou pagar caro para ter direito a essa regalia de ser bem servido, rapidamente atendido…
A qualidade de vida tem um custo…
Sim, tem custos, mas o bem estar, a qualidade de vida e o nível de vida são as prioridades de quem nos governa, para isso é que o povo elege os seus governantes. Ou será que não é assim? O bem estar, a qualidade de vida e o nível de vida da população não são as prioridades dos nossos governos?
Assim, urge perguntar… O que fazer com o interior? As aldeias são para acabar? Afinal não fazem falta?
No passado houve gente com competência, com classe, com categoria… pensou, projectou, planeou, fez… de repente, o tempo tudo levou… vieram ideias novas, iluminadas, da nova geração, muito mais sábia, que tudo mudou… As SCUT eram SCUT porque deveriam ser SCUT, as nossas vilas e aldeias tinham serviços de educação, saúde, justiça, segurança e outros porque precisavam desses serviços… agora em nome de quem é que tudo mudou?
Já agora, quem teve voto na matéria? Os interessados? Os lesados?
O que vai acontecer? O interior migra todo para o litoral ou para o estrangeiro? Qualquer dia cria-se um género de rendimento de inserção para o interior, porque promove-se a sua desqualificação, o seu despovoamento, assim, é que nunca mais nenhum investidor ousará gastar um cêntimo numa região que é abandonada em primeiro lugar pela própria nação.

O encerramento de escolas primárias e os mega - agrupamentos

A minha escola agrupou! Faz agora parte de um mega – agrupamento, um super agrupamento, que no seu total perfaz um total de 5 escolas e Jardins de Infância.
Pertencemos a um agrupamento que completa os desígnios governamentais de oferecer um serviço de educação dos 3 aos 80 anos, com ensino pré – escolar, ensino regular em todos os níveis de ensino, ensino profissional e educação e formação de adultos.
As escolas com menos de 20 alunos foram encerradas!! Muito se irá poupar…
Agora a questão principal. Será que estes desígnios governamentais são os mais acertados? Quem vai beneficiar com isto? Quanto se vai poupar? Com que custos? Pesaram-se os lados da balança?
Fundiram-se os órgãos de gestão, os serviços administrativos, paralelamente, reduziu-se brutalmente ao crédito horário, a DRE reduziu drasticamente no pessoal não docente (menos horas para tarefeiras e menos vagas para pessoal do fundo de desemprego).
Isso já afecta a escola.
Mas não se fica por aqui. As escolas do agora super agrupamento são diferentes, com culturas diferentes, hábitos diferentes, rotinas diferentes. Afinal sempre se pode dizer são meras rotinas, reajustem-se, mudem.
É um processo de aculturação, pelo modo mais grave e anti – natura, por imposição. A escola inserida numa realidade geográfica criou laços, aprofundou raízes, exibiu uma identidade e uma cultura própria ao longo de muitas décadas. Quem pediu este agrupamento, nós não fomos, isso é certo.
Imposição, demagogia, democracia!! Funciona a vontade da maioria, mesmo que não se faça jus à competência necessária, ao caminho lógico, a recomendações de inspecções gerais.
A escola trabalhava mal? Não, os relatórios, as inspecções provam que não.
Agora temos sede numa cidade, agrupamos a uma escola cuja lógica simples é o trabalho para as estatísticas. Os alunos da cidade poucos são os que não constituem um investimento pesado e medido pelas horas de explicações, pelo acompanhamento e protecção de pais habilitados para o efeito.
Pobre a minha escola, enquadrada pela simplicidade e inocência do mundo puro do campo, do meio rural, em que os miúdos, também alunos da escola, quando chegam a casa têm outros deveres a cumprir, que não os da escola.
Agora serão medidos, pesados pela bitola da cidade. Comparar o que não tem comparação. Passa-se do 8 para o 80, do 60 / 40 para o 90 / 10. A discrepância até podia ser outra, mas deveria ter uma preocupação: formar o aluno como homem / mulher, cidadão responsável e válido para a nossa sociedade.
O espírito das últimas reformas educativas transmite essa ideia… Outra é imposta… funciona… a lógica da maioria, daquela maioria que inquina a democracia, a que não quer ver, que não se interessa, que não tenta analisar, entender… a realidade.
Aculturação… forçada pela maioria.
Neste momento está difícil trabalhar… os professores estão desmotivados… cada vez mais! Impotentes, forçados a deslocações, só para tomar conhecimento, porque a maioria já decidiu que se deveria continuar com… as rotinas da escola com que agrupamos. Fomos engolidos, e a outra escola, é o bicho papão. Cada ano que passa mais tiros no porta-aviões da educação, está quase a bater no fundo.
Ironia, a outra escola, o tal bicho papão é uma escola óptima, excelente, noutras circunstâncias talvez todos tivessem o desejo de lá trabalhar… malditas as mega fusões.
Ao nível da classe docente, está instalado o caos e o desânimo, nos serviços administrativos paira o meda, a insegurança, o stress… e quem será o próximo contemplado com um bilhete de ida para a sede? Todos querem ir? Ninguém… Gato escaldado…
Ao nível das direcções fundidas? Um mar de rosas? Será uma pergunta com resposta simples? Será?
Muitas outras dúvidas persistem… Ficam para depois outros balanços.