domingo, 9 de março de 2008

Quanto vale uma manifestação de professores

80 000. 100 000. Provavelmente um pouco mais. As várias fontes de informação divergem ligeiramente no número, mas são unânimes no sucesso da Marcha da Indignação.
Agora o governo português terá que fazer bem as contas antes de tomar uma posição definitiva sobre as questões da avaliação, da gestão escolar, do estatuto da carreira docente, enfim, sobre as feridas mais profundas infligidas numa classe tradicionalmente pouco unida, mas que, talvez um tanto inesperadamente, para a classe governativa, pôs de lado interesses ou divergências e apareceu completamente unida.
O nosso governo operou uma acção deveras significativa e quiçá merecedora de uma atenção especial, principalmente pelos nossos investigadores... até que ponto não terá impacto noutros sectores profissionais ou sociais do nosso país?
Será uma ressurreição do sindicalismo profundamente atingido, quer pelas reformas em curso, quer pela propaganda de culpabilização levada a efeito por vários sectores do tecido económico, social e político do nosso país? Será apenas um leve estrubuchar de uma estrutura efectivamente moribunda e condenada no nosso país?
A questão é saber até que ponto esta mega manifestação produzirá mudanças...
Há que pesar e saber o que vale para o governo de José Socrates no mínimo mais de 100 000 votos...
Porque é certo e sabido que mais professores não compareceram na manifestação por causas óbvias: o casal de professores, e um teve que ficar em casa a tomar conta dos filhos, os professores envolvidos em provas do Desporto Escolar, realizadas também no dia da manifestação, professores que tiveram outros compromissos nas suas agendas...
no mínimo 100 000, porque acrescem familiares e amigos ...
Quanto valem estes pelo menos 100 000 votos... apenas perder a maioria absoluta? À luz do resultados das legislativas de Fevereiro de 2005, tal seria um facto consumado. O poder absoluto e considerado pouco democrático teria os dias contados... terá os dias contados!
Haveria mais danos?.... perder as próximas eleições?
Directamente, seria impossível afirmar tal coisa, mas pode aparecer um efeito contágio ... Também sabemos que o efeito Socrates é poderoso no controlo e mestre na propaganda, e terá as suas armas a esgrimir pela sua permanência no poder.
E um recuo nesta questão específica da educação controlaria os estragos já causados? Abriria outras feridas?
Os professores estão sentidos e desconfiados, e sabendo que talvez uma maioria tenham votado PS nas últimas legislativas afigura-se como díficil voltar a ganhar esses votos... mas nunca se sabe... os eleitores são voláteis...
Mas um retrocesso que consequências traria a um governo cuja imagem de marca é a inflexibilidade ... e posterior mudança de opinião... já aconteceu muitas vezes no passado recente?
Seria aproveitado para exigir mais retrocessos em politicas já em aplicação. Talvez mais agitação e mais alguns votos... Talvez não... talvez estas considerações sejam apenas um ensaio ... sobre a nossa cegueira.
Efeito Socrates vs Efeito Professores
PL

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